Em
abril...
Por vezes, a realidade se mostra dura demais, não é mesmo? Ultimamente, há dias em que tem sido difícil acompanhar o noticiário, absorver o que vem acontecendo… e, nesses momentos, mergulhar na fantasia é ainda mais tentador que em tempos normais! Quem não está assistindo a uma série, vendo uma novela, acompanhando um programa de televisão, lendo um livro ou se jogando em qualquer outra manifestação de arte ou narrativa fantasiosa em 2021? Pois é! Às vezes, só a arte salva.
Neste mês, o tema da nossa revista é a contação de histórias! Encantamos e fomos encantados por convidadas incríveis nas nossas lives e conhecemos uma série de projetos inspiradores, de professores que usam a contação de histórias em suas práticas educativas. Foi uma delícia mergulhar nessa fantasia e, se você ainda não viu os nossos vídeos, pode se preparar para se emocionar.
Por vezes, porém, a ficção pode se confundir com a realidade e, inclusive, uma sensação de desconforto e de medo pode nos acometer, mesmo que o perigo não esteja tão próximo. Durante a pandemia, sintomas de ansiedade ficaram ainda mais presentes na rotina dos professores e, nessa rede, não queremos que nenhum professor se acostume a emoções desconfortáveis.
Por isso, no nosso encontro sobre saúde, falamos com uma psicóloga que nos ensinou dicas práticas para lidar contra a ansiedade. Você conhece a técnica da respiração de quatro tempos? Sabe a importância de tocar no próprio peito em um momento de crise?
Vem com a gente, prepara a pipoca, senta que lá vem história! Que você goste do conteúdo desse mês e que, mais uma vez, você se sinta acolhido, professor. Estamos juntos para muito além do "era uma vez", combinado?
Um beijo
Professora Fique Bem
As técnicas de Contação de Histórias
Quem conta um conto aumenta um ponto — e omite outros. Você concorda com esse ditado popular? Seja qual for a sua opinião, uma coisa é certa: se o conto for bom e bem contado, ele pode marcar a sua vida, permanecer na sua memória e, inclusive, influenciar a sua visão de mundo.
LIVE: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA ESCOLA
No início deste mês, o Fique Bem recebeu duas convidadas queridíssimas para trocar uma ideia a respeito de um assunto que toca no íntimo de muita gente: a contação de histórias. A live, que aconteceu na primeira terça-feira do mês, teve uma hora de duração, mas passou super rápido. Afinal, ambas tiveram, em trechos diferentes da conversa, um momento individual para contar uma história para a gente e nos encantar com suas interpretações.
A professora e contadora de histórias Samara Rosa, que atua na rede municipal de Curitiba, é pedagoga com MBA em Gestão Escolar, especialização em Literatura e Contação de Histórias e participante do podcast “Deixa que eu conto” da Unicef/Brasil com histórias afro-brasileiras. Na nossa conversa, ela interpretou um conto africano chamado “Por que os pássaros coloridos não cantam?” e usou objetos durante a contação.
“Eu conheci essa história em uma roda de histórias negras e o objetivo do encontro era trazer histórias africanas que trouxessem elementos da natureza”, contou ela. “Eu tenho procurado por narrativas que não são contadas. Me ensinaram que os clássicos são os clássicos europeus e quem disse isso, né? Toda a história tem uma outra história”, explicou a professora, que afirma categoricamente: “Para mim, uma boa história tem que fazer sentido com a minha história”.
Mais adiante, foi a vez da nossa segunda convidada, a professora Cleidna Landivar, contar um conto. Ela, que também é escritora e contadora de histórias, optou por outra narrativa, também africana, e interpretou a história do caçador Naiubari. O conto “A Cabeça Falante” integra o livro Procurando Assombração e Outras Histórias, de Márcia Batista.
Na história, o jovem caçador encontra uma caveira falante e tem dificuldades com os guardas da realeza, que duvidam da sua palavra. “Esse é um conto que exalta todos aqueles que morreram ou perderam suas cabeças por defenderem suas verdades”, conta Cleidna. A professora ressalta ainda, durante a conversa com o Fique Bem, como ela não tem o costume de contar histórias para a câmera, mas teve que se adaptar às limitações causadas pelo distanciamento social.
Quer saber mais sobre esse encontro encantador? Assista à live completa e descubra, além dos segredos dos pássaros e de Naiubari, quais as dicas que as professoras têm para aqueles que querem se profissionalizar na contação de histórias. Quem sabe você não adere à prática e acrescenta novos enredos às suas aulas ainda neste semestre, professor?
A Educação Emocional na escola
Se fosse para você dar um palpite, qual seria o principal obstáculo para a saúde mental dos professores em 2020? Recolhemos uma série de relatos durante o ano passado e a ansiedade sempre apareceu como protagonista deste, que foi um ano tão incerto e recheado de notícias difíceis demais para serem digeridas.
Frente a essa situação, nasceu o Fique Bem, um espaço de acolhimento aos professores e de conversas intensas sobre a saúde nas escolas.
LIVE: EDUCAÇÃO EMOCIONAL NA ESCOLA
No segundo encontro que fizemos no mês de abril, o tema da conversa foi justamente a importância da saúde emocional nas escolas. Para isso, recebemos a nossa querida psicóloga e escritora Miriam Rodrigues. Idealizadora da Educação Emocional Positiva, programa psicoeducacional de competências socioemocionais e habilidades para o bem estar, Miriam também é autora de mais de 20 livros.
Na live, Miriam nos contou como diminuir a ansiedade. Segundo ela, uma pessoa ansiosa se julga em perigo, acha não ser boa suficiente e, por isso, começa a sentir reações físicas a essa situação. O perigo faz a pessoa ter respiração toráxica, o que faz o coração bater mais forte, mãos ficarem frias, desenvolve uma sensação de tontura e, diante de tantas evidências, a pessoa interpreta os sintomas como se algo muito grave estivesse lhe acontecendo.
“A depressão acomete demais os profissionais da educação, que têm tantas demandas. Isso já era um cenário que a gente observava antes da pandemia. Com a chegada da pandemia, tudo piorou, infelizmente. Porque aqueles pensamentos da ansiedade, de perigo, passam a ser retroalimentados pelas mensagens que chegam aos professores pelo Whatsapp, pelas notícias”, afirma a especialista.
Para lidar com a ansiedade, a psicóloga indica, antes de tudo, o cuidado com a respiração, porque isso rompe o ciclo de disparar o coração, das mãos frias e da tontura. A dica é simples: é preciso respirar em quatro tempos. O método consiste em inspirar, prender e soltar o ar em um ciclo de 12 segundos divididos em blocos de quatro.
Apesar de simples, a prática pode não ser tão fácil de ser aplicada se só for lembrada no momento do desespero. Para Miriam, os pacientes podem comparar essa situação com uma aula de natação. Afinal, quando aprendemos a nadar, aprende-se na parte rasa da piscina, em um ambiente controlado. “Você foi treinando em águas rasas até ficar forte. Depois vai pra parte funda. Com os exercícios de respiração é igual: precisa aprender quando está tudo bem. Tem que treinar todo dia. Vale fazer cinco minutos por dia, todo dia. Lembrar só quando está em crise não funciona”, aconselha. “Só se pode pensar depois de se acalmar. Isso é mantra para a vida”, completa.
Outra dica da especialista é explorar o senso do tato. “Se você puder, além da respiração, colocar a mão no coração, ajuda bastante. Porque o toque ajuda a liberar, no nosso cérebro, a ocitocina. A ocitocina é o hormônio do amor, da conexão e faz um bem danado para a química do nosso cérebro. Nos ajuda a acalmar”, diz ela. “Então você pode fazer a respiração de quatro tempos com a mão no coração. Isso já é um autocuidado super importante para a sua saúde emocional”.
Quer saber mais sobre o assunto? Confira os nossos vídeos do Fique Bem sobre saúde emocional e ansiedade. Mas também não deixe de assistir essa live por completo dando play no vídeo acima. Em águas rasas, vamos navegando, professor. E tudo vai ficar bem.
Selo
de prof
para prof
Projetos com Contação de Histórias
Como levar as técnicas e os prazeres da contação de histórias para o ambiente escolar? Afinal, quais projetos podem ser desenvolvidos sob essa temática, além do convencional? Ser professor e contador de histórias é saber como e quando encantar os alunos, sem deixá-los entediados, e sempre alimentando a sua curiosidade.
Nessa área, alguns professores merecem destaque devido à sua tamanha criatividade! Haja interpretação, carisma e afeto. Confira, no vídeo abaixo, como os professores da rede Fique Bem desenvolveram projetos acadêmicos encantadores, baseados na contação de histórias.
Esse vídeo foi publicado na terceira semana do mês no nosso Canal do Youtube e é o terceiro da nossa série “De Professor Para Professor”, na qual damos espaço para docentes divulgarem projetos autorais relacionados à temática do mês.
Colunas
Gina Vieira Albuquerque
FEMINISMO
O Feminismo é contra os homens e contra a Família Tradicional Brasileira?
Ceilandense, professora da educação básica no DF há 29 anos. Mestra em Linguística, especialista em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar e em EAD. Autora do Projeto Mulheres Inspiradoras.
Tenho observado que, nessa chamada Quarta Onda Feminista, ou Quarta onda de luta por direitos das mulheres, precisamos dar destaque à discussão sobre porque uma agenda educacional antissexista e anti-machista é importante para os meninos e para os homens. Digo isso, porque tenho observado, também, cada vez mais, a manifestação de tentativas de desqualificação do Movimento Feminista, e a propagação da narrativa de que o Feminismo é contra os homens.
Em especial grupos conservadores e reacionários atuam produzindo conteúdo que, a todo custo, tenta propagar a ideia de que é necessário lutar contra o Feminismo porque esse é um movimento que coloca em risco a existência da “Tradicional Família Brasileira”, porque tira o poder dos homens e os subalterniza em relação às mulheres.
É preciso expor a desonestidade intelectual dessas narrativas porque, de fato, embora haja variações do Feminismo, nenhuma corrente feminista tem como agenda lutar contra os homens ou subalternizá-los. O Feminismo não combate os homens, ele combate as masculinidades hegemônicas tóxicas que educam os homens para uma forma destrutiva de exercer a masculinidade.
A pesquisadora Valeska Zanello, psicóloga clínica e doutora em psicologia pela Universidade de Brasília, que pesquisa gênero há mais de 25 anos, destaca os pilares que constituem as masculinidades em países como o Brasil. Segundo ela, como já discutido em parte nessa coluna, no mês passado, ser homem dentro da cultura brasileira, está associado a: embrutecer consigo mesmo e com o mundo, a entender as mulheres como subalternas e desprovidas de qualidades tão nobres quanto as deles. Significa também competir com outros homens considerados inferiores, de acordo com os valores sociais e culturais de um determinado período histórico. Também é parte da construção de masculinidades no Brasil “a não aprendizagem da renúncia sexual e da frustração dos seus desejos (para muitos, tratava-se e trata-se até hoje de um ‘direito’). A representação que se firmou foi, portanto, a de que os ‘instintos sexuais’ (ênfase nas aspas) dos homens são ativos, ‘naturais’, insaciáveis e fora da possibilidade de domínio, controle renúncia”. (Zanello, 2018, p. 192)
O reflexo das masculinidades forjadas nesses termos é que nós somos um país campeão de estupros de meninas e de mulheres, o quinto país no mundo em violência doméstica, e um dos países que mais mata a população LGBTQI+. Oitenta por cento das meninas que sofrem abuso sexual são abusadas por um homem próximo delas- o pai, o padrasto, o tio, o vizinho, o primo- ou seja, a cultura que educa os homens para a não renúncia sexual os faz acreditar que eles têm o ‘direito’ de satisfazer os seus desejos sexuais a qualquer custo. É contra isso que o Feminismo e a Educação Antissexista lutam, contra essa forma de ser homem que é danosa aos homens, às mulheres e à sociedade de um modo geral. Os Movimentos que atuam em defesa dos Direitos das Mulheres defendem, também, o direito de os homens construírem e exercerem outras masculinidades fora desses estereótipos. Os Movimentos Sociais que lutam por direitos das mulheres lutam para que a casa, que é um dos ambientes mais tóxicos para mulheres e meninas, seja transformada em um ambiente onde homens, mulheres e crianças possam viver em paz.
Saúde Mental, Gênero e Dispositivos- Cultura e Processos de Subjetivação- Valeska Zanello
RACISMO
Racismo na Infância
Lorena Bárbara Santos Costa
Professora da rede pública municipal dos municípios de Salvador e Lauro de Freitas (BA). Pedagoga pela UFOP e Pós-graduada em Psicopedagogia e em Pobreza e Desigualdade Social. Mestranda em Educação de Jovens e Adultos- UNEB.
O que fazer quando uma criança negra se queixa dizendo que um coleguinha a chamou de cabelo duro, feio, de bruxa fedorenta e outros termos pejorativos?
O que fazer quando uma criança negra sempre se queixa que foi impedida de participar das brincadeiras coletivas na escola?
O que fazer quando uma criança negra começa a não aceitar os seus traços físicos e pede para mudar o seu cabelo, a sua cor de pele ou se parecer com alguma pessoa de etnia diferente?
O que fazer quando uma criança negra questiona que seus brinquedos nunca possuem as suas características?
Infelizmente, situações como essas citadas acima fazem parte da realidade de muitas crianças negras e nem sempre seus familiares sabem como agir.
As pesquisas da área da Psicologia têm apontado os efeitos colaterais do racismo na infância. Crianças que são vítimas de racismo tendem a sofrer de ansiedade, apresentam baixa autoestima, dificuldade de socialização e aprendizagem, negam a própria identidade e inclusive em alguns casos podem até apresentar quadro de depressão.
O papel da escola é de fundamental importância no combate ao racismo na escola, porém, não pode ser a única responsável. É importante que a família crie condições para que cada criança seja educada, amada, protegida, tratada com dignidade e que aprenda desde cedo a respeitar e a conviver com as diferenças. Afinal, a criança reproduz o racismo que aprende com as pessoas que ela convive.
A escola deve garantir a aplicabilidade das Leis 10.639/03 e 11.645/08, que garantem o ensino sobre a cultura africana e indígena no currículo escolar respectivamente. É preciso promover ações pedagógicas que fomentem o legado dos povos africanos e indígenas na construção da sociedade brasileira, a fim de ajudar os estudantes a se tornarem cidadãos críticos, capazes de viverem e conviverem em uma sociedade democrática.
Não podemos permitir que as crianças negras continuem sendo silenciadas, violentadas, marginalizadas e também assassinadas pelo racismo estrutural em nosso país.
Conforme o nosso saudoso Nelson Mandela, “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.
Sendo assim, o que podemos fazer para contribuir com uma infância sem racismo?
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Converse com as crianças sobre a existência de diferentes etnias e culturas.
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Elogie as características das pessoas negras e indígenas.
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Ensine sobre a importância de se respeitar e valorizar as diferenças.
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Consuma brinquedos afirmativos para contribuir com a formação da identidade da criança negra e também não negra.
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Não se cale diante de um caso de racismo na infância. Defenda e Denuncie. A violência racial contra uma criança negra não pode ser normalizada.
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Promova leituras sobre a cultura africana, indígena e também de outros povos. Hoje em dia já temos disponíveis maravilhosos livros sobre as temáticas.
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Pesquise e brinque com as crianças sobre jogos e brincadeiras dos povos africanos e indígenas.
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Descolonize-se! Procure saber sobre a produção de saberes e conhecimentos produzidos pelas pessoas negras e indígenas e converse com as crianças.
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Questione o ensino da escola de seu filho ou filha. Exija um ensino intercultural.
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Desconstrua o mito da superioridade racial das crianças brancas, conversando que, apesar de todas as crianças possuírem os mesmos direitos, muitas crianças negras não têm os seus direitos respeitados.
Para combater o racismo na infância, é preciso engajamento de toda a sociedade brasileira, a partir da conscientização de cada cidadão e cidadã do seu papel na luta contra a opressão e desigualdade social.
Referências
ANDRADE, V. e BRUNO, E. Nelson Mandela por ele mesmo. São Paulo: Martin Claret, 1991.
ARAÚJO, Ana Valéria (Org.). Povos Indígenas e a Lei dos Brancos: o direito à diferença. Brasília: MEC/SECAD; LACED/Museu Nacional, 2006.
CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. Do Silêncio Do Lar Ao Silêncio Escolar: Racismo, Preconceito E Discriminação Na Educação Infantil. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2012.
Sites
https://www.unicef.org/brazil/por-uma-infancia-sem-racismo
Material Pedagógico
http://www.defensoria.ba.def.br/wp-content/uploads/2021/03/sanitize_250321-072005.pdf
PEDAGOGIA DO ENCANTO
Poções para encantamentos
Flávia Pereira Lima
Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa e doutora em Recursos Naturais do Cerrado pela Universidade Estadual de Goiás. É professora no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás. Seu maior desejo: que suas alunas e seus alunos compreendam a beleza de ler e explicar o mundo por meio do conhecimento científico.
A coluna chama-se Pedagogia do Encanto mas, cá entre nós, não está fácil encantar. São tantas as preocupações com a família, com os alunos e as alunas, com o país, que manter a “mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo” é um desafio.
Somos profissionais, mães, companheiras, amigas. Somos muitas em uma só. Ao entrar em sala de aula tentamos deixar para fora nossos problemas, mas nem sempre isso é possível. Já me peguei impaciente com meus alunos como reflexo de coisas externas à escola. Também já me curei de dores de cabeça e outros males ao passar pelo batente da porta e encontrar crianças à minha espera, de sorriso no rosto e perguntas na ponta da língua. Vivo as dores e sabores de ser professora, e, fazendo as contas, o saldo é de felicidade.
Há um ano vivemos uma crise sanitária mundial. Há um ano a maioria das escolas está vazia. Há um ano estou sem a convivência com minhas alunas e meus alunos, uma das fontes do meu encantamento. Talvez por isso, nos últimos tempos, tenho recorrido com mais frequência a diferentes poções de encantamento, vindas nos mais variados frascos, para dar aquele up, uma injeção de ânimo, enquanto a injeção da vacina não vem...
Por isso, na coluna deste mês, resolvi compartilhar uma lista das coisas que me fazem bem. Confesso que gosto de listas; gosto mais ainda de ticar frente de algo que fiz. Ô sensação boa. Não é por acaso que adooooro o livro “Listas Fabulosas” da Eva Furnari, aliás, adoro tudo que ela escreve e desenha.
A lista a seguir não é de coisas a se fazer, mas das coisas que me fazem bem. São pequenos goles de encanto, energia, cor e alegria que me ajudam a prosseguir. Então vamos lá:
Poções para ficar encantada
As de frascos de ler contém:
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Livros de criança, cheio de belas ilustrações.
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Textos de cair o queixo que me fazem pensar assim “Hummm, como eu queria ter escrito isso”.
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Livros que me levam para outros lugares.
As de frascos de ver contém:
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Séries coreanas (muitas!!!) — os doramas.
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Vídeos com resenhas dos doramas coreanos (deu para perceber que eu gosto).
As de frascos de ouvir contém:
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Podcast “Não inviabilize”, para entender que a vida real supera e muito as novelas.
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Podcast “Foro de Teresina”, porque é bom demais escutar conversa de qualidade de gente inteligente.
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Podcast “Mamilos”, porque é bom demais da conta escutar gente que fala com a gente.
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Podcast “Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes”, para me emocionar com mulheres fortes que tanto fizeram por um mundo melhor.
As de frascos de degustar contém:
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Chocolate com uma xícara de café.
Desejo que a sua prateleira tenha muitas poções de frascos, cores e sabores variados. Que novas poções apareçam, que outras se renovem, que algumas se inutilizem. Desejo, principalmente, que você fique bem.
P.S.: Compartilha comigo as suas poções. Podemos conversar no Twitter @fluvelima
COMPAIXÃO NA ESCOLA
Fomos feitos para navegar pelas emoções:
Que tal levar seus estudantes para um passeio?
Eduardo Pacifico
Fundador e Diretor da ONG Gaia+. Ecólogo, mestre e doutor em Ciências Ambientais, criou e realizou projetos de habilidades socioemocionais com milhares de crianças e professores em todo o Brasil.
Valentin Conde
Coordenador de projetos no Instituto Sidarta, professor de práticas contemplativas para a infância, Pedagogo formado pela PUC-SP e mestre em ciências da religião com ênfase em estudos budistas pela Fo Guang University de Taiwan. Pós-graduado em Gestão Emocional nas Organizações pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
Em nosso último encontro aqui em Compaixão na Escola falamos sobre uma escola pelo afeto, mote que pode ser uma utopia para alguns, mas é algo muito sério e factível para nós. Vamos caminhar juntos nessa construção?
Para iniciar, uma dúvida comum: e se simplesmente eliminarmos as emoções desagradáveis? Nada de raiva, tristeza ou medo... Que tal ignorarmos essas emoções? Bom, não é simples assim.
Em 1994, o pesquisador estadunidense Robert Levenson publicou os resultados de uma pesquisa sobre as emoções e o princípio de supressão. Em seu experimento, Levenson pediu que pessoas assistissem ao mesmo filme (contendo cenas disparadoras de emoções de valência negativa como medo e nojo), mas metade dos sujeitos foram instruídos a suprimir as emoções enquanto assistiam o filme, ou seja, não deveriam fazer caretas ou gestos de aversão. O pesquisador mediu várias funções corporais e descobriu algo muito valioso: os sujeitos no grupo de supressão, apesar de terem conseguido disfarçar a aparência das emoções, tiveram um aumento muito maior nas respostas internas de estresse. A hipótese construída pelos cientistas é que quando nos esforçamos para “não sentir” acabamos por sentir mais. Inibir os sinais das emoções demanda muito esforço pois é como ir contra nossa natureza.
Entendido que forçar uma supressão não me ajudará. Então o que fazer?
Primeiro passo: aceitar. Se temos essas emoções é porque elas são evolutivamente estáveis e importantes para nossa vida. Como diria Sartre, uma emoção não é um acidente, mas efeito da própria realidade humana. Mas que realidade humana é essa?
Nossos corpos e mentes estão integrados numa missão superimportante: nos manter vivos e saudáveis. Para isso, nossos sentidos estão sempre buscando a melhor forma de cuidar da gente.
Imagine que somos uma casa e nossos sentidos são um sistema de segurança. Se algum invasor aparecer, o alarme dispara. Ótimo! Ele está me alertando de um perigo. Você tiraria o alarme de sua casa? Provavelmente não... Sem ele, talvez não percebêssemos a cozinha pegando fogo.
Mas o que é o alarme nessa história? Nossas emoções desagradáveis! Elas são mensagens que nos ajudam a notar e comunicar nossas necessidades.
Maravilha: aceitei que não faz sentido inibir as emoções, reconheço a importância delas como um alarme, mas e agora? Meu alarme está ligado 24h por dia / 7 dias por semana...
Então, hora de mudar. Quando a percepção de perigo passa, o sistema precisa parar de soar o alarme e daí poderemos ouvir música, ler e conversar dentro dessa casa. Isso seria equivalente aos sentimentos agradáveis, que nos ajudam a florescer.
Chegamos a conclusão que as emoções são nada mais do que a comunicação das nossas necessidades e elas nos ajudam a desenvolver mais autocompaixão e compaixão com os outros. As emoções não são “caprichos” ou “chiliques”, mas pistas para navegar no nosso mundo interior e nas nossas relações com mais bondade. Seria como possuir um mapa da mente onde cada emoção é uma geografia que exige algum tipo de cuidado e atenção. Sabemos que alguns lugares podem ser cultivados em determinadas épocas, mas outros passam por condições extremas (emoções desagradáveis) e precisam de tempo para se recuperar e então serem cultivados. Viajar com um mapa nos dá liberdade para escolher nosso destino e as ferramentas que precisamos na jornada.
Na sala de aula isso implica na observação aberta dos estudantes e situações de aprendizagem. Essa atitude de abertura diante das experiências nos permite escolher nossas respostas nas diferentes situações ao invés de simplesmente reagir à elas. O alarme soou? Perceba, compreenda e responda conscientemente para que o alarme desligue. Não simplesmente reaja e deixe o alarme ligado.
Que tal convidar seus estudantes para essa jornada? Assim todos poderão se tornar excelentes cartógrafos!