“Se a motivação do professor importa, a gestão precisa oferecer ferramentas”, diz psicólogo escolar
Hora do Café
Edição N.º 25, Fevereiro de 2023
Se você é um professor que, na primeira semana de fevereiro, já está de olho no carnaval e mal espera pelas próximas férias, porque o trabalho te deixa exausto psicologicamente, vamos conversar. Afinal, onde foi parar toda aquela motivação que você e todos nós tínhamos no início das nossas carreiras? O que tem causado ansiedade e sofrimento em tantos profissionais da educação, logo no início do ano letivo?
Para conversar sobre esse assunto, chamamos para um bate-papo o psicólogo escolar Pedro Alencar, formado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que atua na secretaria de Educação, Cultura e Tecnologia de Araripe, um município próximo a Juazeiro do Norte, no Ceará. Pedro é psicólogo escolar em 24 escolas da região e seu trabalho é pautado não no atendimento clínico, mas na manutenção da saúde mental coletiva, lidando com instituições localizadas em espaços urbanos e rurais.
Psicóloogo escolar Pedro Alencar
“O trabalho do psicólogo escolar é diferente do que está no imaginário popular. Eu faço formação em biodança, por exemplo, que é uma prática terapêutica como a yoga, mas usa música, dança, movimentos corporais e trabalho em grupo. Essa formação tem dois objetivos: a afetividade no grupo e o fortalecimento da nossa própria identidade. A prática envolve muito abraço, toque, olho no olho, músicas específicas para isso”, afirma.
Para o especialista, o sofrimento que algumas pessoas podem sentir com a volta às aulas está bastante conectado com a falta de práticas de autocuidado na rotina dos profissionais da educação. “É preciso que os professores tenham momentos de autocuidado e de práticas de autoconhecimento no seu cotidiano. A psicoterapia é uma delas, mas não é a única. Durante a pandemia, teve muito adoecimento mental dos professores, devido à carga de trabalho, ao estresse, ao ‘ter que se virar’. Então, é preciso que os professores tenham constantes práticas de autocuidado para conseguir identificar suas emoções e responder da melhor forma a partir das emoções e sentimentos que estão ali”, afirma.
“Não existe uma injeção de motivação, né? Eu acho que a biodança, pode ajudar muito, assim como a yoga e outras práticas, mas o professor tem que ver sentido nisso”, continua. “Então, de forma macro, para tirar essa cobrança do professor, é preciso também a gente entender a escola de uma outra forma. A gestão precisa investir mais em questões da própria competência socioemocional, trabalhar esse professor. Não pode ser no sentido só de incentivar que ele busque o material, mas a gestão pode dar esse acesso”, aponta.
Professoras em atividade de biodança
“Quando tem um profissional especializado, por exemplo, um psicólogo, que presta esse apoio à escola, o professor entende que tem alguém preocupado com ele, não só com o aluno. Se eu estou cobrando uma boa saúde do professor, para deixar de ser apenas mais uma cobrança, a dinâmica precisa mudar. Se é importante para a gestão, a gestão precisa disponibilizar essas ferramentas”, completa.
“Quem é professor precisa saber da sua importância, que para o outro estar bem, ele precisa estar bem. Além disso, os professores podem humanizar a sua atuação, cuidando do filho do outro como se fosse seu, no sentido refletir na resposta que dá às crianças, em como chega, como dá um bom dia aos alunos… assim a gente entende o aluno e o professor como parte de uma rede muito maior”, encerra o psicólogo escolar.
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