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Tião Rocha, o educador freireano que faz perguntas, abraça territórios e abomina a ideia de ser professor

Fala, Mestre!

Edição N.º 25, Fevereiro de 2023

Todos os meses, a redação da revista Fique Bem usa esse espaço para apresentar, aos leitores de todo o Brasil, professores que possuem uma história inspiradora. A nossa intenção é a de mostrar como nós, educadores, somos partes de um todo, ao mesmo tempo em que somos indivíduos únicos. Afinal, não existe apenas uma forma de ser professor, ou educador. Aliás, seriam essas duas palavras sinônimos perfeitos?


O nosso educador do mês acredita que ser professor é muito diferente de ser educador. “Foi na universidade que me dei conta de que queria ser educador e não professor. Todos acham que é a mesma coisa. E eu falo que não: professor é quem ensina, professa; educador é quem aprende. Eu queria sair do lugar da ensinagem e ir para a aprendizagem. A universidade não queria aprender, só ensinar. Então, a solução que eu tive foi sair daquele lugar”, diz ele. 


A fala é do mineiro Sebastião Rocha, conhecido como Tião Rocha. Talvez você já tenha ouvido falar dele, principalmente em rodas de conversa sobre projetos educativos. Tião, que de mineiro tem de tudo, é daqueles seres vividos que falam de forma simples e mansa, como se mais quisessem é ouvir. Porém, quando discursa, o criador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD) é encarado com olhos atentos, carinhosos e curiosos, como quem inspira gerações de sonhadores e educadores.


O CPCD é uma instituição sem fins lucrativos, com princípios freireanos, focada na promoção da educação popular e do desenvolvimento comunitário por meio da cultura. Tião criou o CPCD em 1984, em Belo Horizonte, mas suas pedagogias próprias já alcançaram diferentes territórios, inclusive o continente africano, atuando em países como Guiné-Bissau, Moçambique e Angola. 




Em 2005, Tião Rocha teve a sua história de vida registrada pelo Museu da Pessoa, publicada com o título “Educação debaixo do pé de manga”. Dois anos depois, recebeu o Prêmio Empreendedor Social Brasileiro. O CPCD, por sua vez, também já teve seus projetos premiados, por exemplo, pelo Unicef e pela Fundação Abrinq. Tião acredita que o modelo tradicional das escolas, com disciplinas, cargas horárias e currículos, vai contra a ideia de Paulo Freire, e sugere que seria preciso “paulofreirar” a educação.


Parelheiros e a união por uma só causa


Após conhecer Vera Lion, coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (IBEAC), uma ONG criada em São Paulo, Tião Rocha decidiu levar o CPCD para uma região da capital paulista que foi transformada após a chegada da instituição: Parelheiros. No mês de janeiro, a redação da revista Fique Bem foi visitar o distrito de Parelheiros, localizado no extremo sul da capital paulista, a 60 km do centro. Durante a visita, vimos como alguns projetos coordenados pelo CPCD e o IBEAC impactaram e seguem mudando a vida de quem vive em Parelheiros.


“A ideia de Parelheiros é essa: fazer perguntas, chamar as pessoas, aprender juntos, e desenvolver projetos que extrapolem a lógica. O que temos aqui não é um projeto de escola, é um projeto de educação amplo, que é algo plural, de desenvolvimento comunitário. Queríamos trazer todas as pedagogias e tecnologias que nós aprendemos. Então os projetos foram surgindo e continuam surgindo”, conta Tião Rocha. 


“Nossa razão de ser é isso: é uma causa. A causa da educação freireana. E nós temos um time para poder jogar esse jogo. Com o tempo, aprendi que não basta ter 11 craques, tem que ter um time, onde a vitória ou a derrota é de todos. Ou vai ou não vai. Criar isso é um processo, porque não fomos treinados ou treinadas para formar esse time da educação”, continua. “O clássico modelo educacional funciona na contramão dessa ideia: ele busca formar indivíduos que vão crescer bem, ganhar na vida, fazer isso e aquilo”, critica o educador popular. 


“Hoje, penso em um modelo de educação contrário ao do sistema de ensino: é a questão da pluralidade e da aprendizagem. Não existe educação no singular, é no mínimo duas pessoas. Somos nós. Não importa nome, organização, somos nós. A gente está fazendo perguntas que nos desafiam a fazer aquilo que a gente achava que não podia ser feito, porque a gente nunca tinha atentado à possibilidade de fazer. Estamos abraçando a possibilidade de pensar fora da caixa, de fazer o não feito ainda”, conclui Tião Rocha.


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