Trabalho socioemocional de professora do litoral paulista chega a encontro com Dalai Lama na Índia

Quem trabalha com educação sabe que, nem sempre, o nosso trabalho é valorizado. Aliás, na maioria das vezes, a desvalorização do trabalho pedagógico é tida como um dos problemas mais comuns na educação em todo o Brasil, principalmente se formos falar dos professores da rede pública. Imagine que delícia seria se você se interessasse genuinamente por um assunto, estudasse sobre ele, levasse práticas diferentes para a sua sala de aula e, diante disso, tivesse o seu trabalho reconhecido na sua cidade, entre outros professores e até do outro lado do mundo? Demais!

Isso foi exatamente o que aconteceu com a professora de educação infantil Daniela de Oliveira Santos, que atua na rede municipal de Cubatão, município localizado no litoral paulista. Daniela, ou a nossa amiga “professora Dani”, como a chamamos, acompanha o Fique Bem desde 2020 e, por meio do projeto, conheceu, se apaixonou e aplicou o currículo do SEE Learning com as crianças em Cubatão. 

Professora Daniela de Oliveira Santos, de Cubatão (SP).

O SEE Learning (do inglês, Social, Emotional and Ethical Learning) é um curso de aprendizagem para corações e mentes. Aplicado no Brasil pela ONG Gaia+, mesma instituição que está por trás do Fique Bem, trata-se de um programa internacional desenhado para fomentar a aprendizagem social, emocional e ética em todos os níveis da educação básica. O curso é elaborado pelo Centro de Ciência Contemplativa e Ética Baseada em Compaixão da Emory University, em parceria com o Dalai Lama, e é focado em levar compaixão para dentro da sala de aula. As inscrições para 2023 estão abertas e você pode demonstrar interesse aqui. 

“Eu trabalho com educação infantil, e amo o que eu faço. Me dedico muito e gosto de estudar, porque a gente está sempre aprendendo coisas novas. Uma área que eu gosto muito de trabalhar é a dos valores, dos sentimentos, da gente aprender a se cuidar para cuidar do outro. Então, o SEE Learning é um curso que faltava para mim e é difícil a gente encontrar um curso nesses moldes, com tudo que vocês oferecem”, conta a professora que tem 26 anos de carreira. 

O resultado positivo do curso é evidente. Além da mudanças que a própria Dani sentiu em si, levar o currículo do SEE Learning para a sala de aula foi transformador. “Foi uma mudança muito grande e eu vi na prática o quanto dá certo. Agora, todo os anos, quero aplicar o currículo com as minhas turmas”, conta a educadora. Segundo ela, muitas das crianças começaram o ano sem saber compartilhar, com dificuldades para socializar, e agressivas. 

“No final do ano, quando algum amigo da sala faltava, eles se preocupavam. Além disso, ficaram muito mais calmos, pediam para sair da sala de aula quando precisavam de um tempo para respirar e, assim, deixaram de ser agressivos”, conta. Esse resultado foi notado não só por Dani, mas pela professora que dividia a turma com ela, pela família e pelas próprias crianças.

Reconhecimento e inspiração que atravessou fronteiras

A professora conta que a mãe de uma das suas alunas, inclusive, trabalhava com um vereador e, um dia, esse vereador a escutou falando da mudança que a sua filha havia passado por causa do programa adotado na escola. Diante disso, o vereador propôs que Dani e todas as crianças da sua turma fossem à Câmara dos Vereadores de Cubatão, para receber uma homenagem. “Falaram o nome de cada criança. É uma coisa que acho que vai ficar marcada para sempre para eles”, compartilha a professora. 

A turma da Dani na Câmara dos Vereadores de Cubatão (SP).

Além disso, a Gaia+ convidou Dani para participar do 1º Seminário Internacional Aprendizagem para Corações e Mentes. No evento, foi transmitido um vídeo com a professora contando a sua experiência, ilustrado por imagens de seus alunos, gravadas na escola. O vídeo, além de ser transmitido no seminário, foi material de divulgação usado pela Secretaria da Educação de Cubatão, em encontros com professores de toda a rede, e também foi parar em um evento do SEE Learning na Índia.

“Eu participei do programa porque eu me identifiquei, mas eu não tinha ideia da proporção que isso iria tomar. Eu apliquei o conteúdo ali na sala de aula com os meus alunos e tudo foi mudando muito. A experiência foi tomando uma proporção maior. Até que o vídeo deles foi parar na Índia!”, exclama a professora. “Eu peguei o globo terrestre e mostrei para as crianças onde ficava a Índia. Eles se sentiram muito importantes”, revela.

“Eu sou muito grata. Inclusive, tem frases do curso que eu anotei e coloquei na porta do meu armário do meu trabalho, para não esquecer. Por exemplo, eu tenho um papel preso com um imã na porta do armário com a seguinte frase: ‘Ouvir, acolher e criar um espaço seguro’. Isso me representa demais”, divide Dani. E é assim que uma professora orgulhosa de ter seu trabalho reconhecido e de ter seus alunos engajados nas habilidades socioemocionais trabalha. “Quando você faz alguma coisa e tem um reconhecimento, você se sente no caminho certo”, encerra.