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Professor baiano conta que foi vítima de xenofobia após receber prêmio em SP

Fofoca Pedagógica

Edição N.º 16 - Maio de 2022

Nem toda a fofoca é engraçada ou existe para causar discórdia. Afinal, fofocar nada mais é que descobrir uma informação sobre algo ou alguém, e diante disso, contar essa informação a uma ou várias pessoas. No texto de hoje vamos trazer o que o nosso convidado chamou de uma “fofoca reflexiva”.

A história que vamos contar hoje é do professor José Souza dos Santos, mais conhecido como Augusto (nome que acabou não indo para a sua documentação). Augusto é de Paripiranga, uma cidade de cerca de 30 mil habitantes, localizada no interior da Bahia. Mas o episódio que ele narrou para a gente aconteceu em Campinas, São Paulo.



Augusto é um professor que já recebeu diversos prêmios


Em 2017, Augusto foi até a cidade paulista para participar de uma cerimônia especial. Ele era um dos finalistas do prêmio Professor Inovador, entregue pelo portal Porvir. Segundo ele, antes de anunciar os vencedores dos prêmios, os organizadores do evento chamavam os finalistas ao palco, divulgavam spoilers sobre o vencedor e, antes da revelação final, faziam uma pausa, liberando todos para um café.


“Durante o lanche, a gente ficou com os nervos à flor da pele para saber quem era o professor que iria ganhar o prêmio. A gente sabe a ansiedade que dá, é um momento com as emoções em ebulição”, lembra ele. Também nesse momento, Augusto e os demais professores que foram chamados ao palco foram abordados por pessoas curiosas e interessadas em saber mais sobre os projetos finalistas.

Aliás, o projeto criado pelo nosso amigo educador, que inclusive foi o vencedor dessa premiação em 2017, foi o “Vamos Conversar”, uma iniciativa que, até hoje, trata de questões socioemocionais e que já ajudou muitos alunos em casos de depressão, ansiedade e até mesmo automutilação. O sucesso do projeto hoje é tanto que ele já se tornou política pública em Pirapiranga, foi replicado em diversas cidades brasileiras e foi até referenciado no caderno de práticas da Base Nacional Comum Curricular.

Durante a pausa para o café, antes do prêmio ser efetivamente dado a Augusto, frente a uma plateia lotada de profissionais da educação de vários estados brasileiros, uma senhora decidiu abordá-lo. “Ela disse assim: ‘Você é da Bahia?’. Eu falei: ‘Sou’. Ela disse: ‘Olha, que legal, eu tenho parentes na Bahia…’ Daí, ela disse assim: ‘Parabéns, professor, pelo projeto… O Nordeste tem coisa boa, hein? Parabéns’. De imediato, eu não entendi”, lembra o educador.

“Naquele momento, eu fiquei pensando na frase ‘O nordeste tem coisa boa’. Eu agradeci, né? Mas, querendo ou não, aquela senhora praticou xenofobia”, continua. “Nós do Nordeste somos muito atacados por discursos de ódio, por sermos nordestinos. Porque, para algumas pessoas, o Nordeste não produz, por ser uma região afetada pela desigualdade social. São falas que talvez silenciem as práticas importantes que existem no Nordeste, que é rico em cultura. É só observarmos e a gente vai perceber o quanto temos nordestino no cenário nacional, nas artes, em pesquisa… Enfim, o Nordeste é pleno de intelectuais, cada um no seu canto”, reforça Augusto.

Você já se sentiu em alguma situação parecida, caro leitor? Augusto conta que, inclusive, só chegou à conclusão — depois de muita reflexão — de que havia passado por uma situação de xenofobia mais tarde, quando retornou ao hotel em que estava hospedado em Campinas.

“Eu já rodei vários estados pelo Brasil, já visitei o Sul e o Sudeste. Mas essa foi a primeira vez que, pessoalmente, eu sofri a xenofobia na pele. Ter isso relatado na minha vida histórica, na minha vida pessoal e profissional, aliás, me marcou. Eu percebi que uma pessoa que não tem um emocional preparado pode até ficar silenciado diante de uma situação como essa”, diz o nosso convidado. E conclui: “É preciso que as pessoas tenham mais cuidado ao elogiar um trabalho, tenham mais pontualidade nas suas falas e ver de onde estão falando e para quem estão falando”.

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