Educação, por si só, não é capaz de reduzir a desigualdade social
Caneta Vermelha
Edição N.º 22 - Novembro de 2022
Essa conversa é com você que não veio de berço de ouro. Afinal, quantos professores não vieram, não é mesmo? Você sabia que um estudo recém-publicado por economistas brasileiros da Universidade de Zurique e da USP, com dados entre 1980 e 2021, apontam que a educação, sozinha, não consegue acabar com a desigualdade social? Afinal, apesar da melhora da oferta de ensino em todos os níveis no país, os 10% mais ricos seguem ganhando até 50% mais que a média dos 50% mais pobres para um mesmo nível de educação.
O levantamento usa o Censo Demográfico e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) para calcular o prêmio salarial para cada nível educacional, ou seja, o quanto uma pessoa deve esperar ganhar a mais caso tenha completado um determinado patamar de estudo, em relação aos que não chegaram ao mesmo nível. A gente sabe a importância da educação na luta contra a desigualdade, mas essas pesquisas são importantes para a gente entender qual é o tamanho desse problema social.
Segundo o estudo, a diferença de salários é maior ainda entre homens e mulheres. Os homens ganham, sempre em média, 100% a mais que elas se ambos têm nível superior completo, 200% no caso do ensino médio completo e praticamente 250% para o caso do ensino fundamental completo. O levantamento também ofereceu informações relacionadas à raça dos entrevistados e a diferença entre a remuneração de brancos e amarelos em relação a pretos, pardos e indígenas também fica perto de 50% para os três níveis de ensino.
O acesso à educação é tema urgente. Contudo, vale reforçar que a pesquisa não está falando sobre isso. Segundo a pesquisa, se os mais pobres tiverem o mesmo acesso à educação que os mais ricos, eles continuarão em desvantagem. Atualmente, o brasileiro médio tem mais acesso à educação do que tinha em 1980, por exemplo, mas a desigualdade desde então não diminuiu na mesma proporção.
“Em 1980, o rico ganhava três vezes a mais do que aquele raro pobre que chegava à faculdade. Ainda hoje, ganha 50% a mais do que ganha o pobre com diploma do mesmo nível”, afirma, em entrevista ao jornal Valor Econômico, Guilherme Lichand, que coassina o trabalho com Maria Eduarda Perpétuo e Priscila Soares. Essa diferença, em vez de diminuir, cresceu ligeiramente quando o critério é o ensino básico e o fundamental. A mesma situação pode ser vista quando a comparação é feita por raça.
Qual a esperança, então? Diante desse estudo, recaímos sobre as demais políticas públicas urgentes que precisam avançar em paralelo ao acesso e à qualidade da educação: o equilíbrio do sistema tributário, a promoção de oferta de trabalho para todos, o fim da emenda do teto de gastos, as iniciativas contra qualquer tipo de discriminação e preconceito, a tributação de lucros, dividendos e heranças, o combate à concentração de terras, o fim da fome, o investimento em saúde e, enfim, a melhor qualidade do gasto público.
Afinal, o efeito da educação sobre salários não pode ser observado apenas para geração atual: trata-se de um acumulado ao longo do tempo e de todas as desigualdades criadas no passado que ainda persistem em nossa sociedade. Ainda nesse sentido, em termos de política pública focada em educação, o foco precisa ser na base, nos anos iniciais.