Em
outubro...
O sinal tocou, chegou a hora da chamada e, não mais que de repente, outubro deu as caras! O mês da criança. O mês do professor — ou seria mais justo falarmos “mês da professora”, já que somos mais de 80% dos profissionais que lecionam neste país? Em 2021, o mês de outubro veio com um “bônus” especial para as crianças e os professores de todo o Brasil: aqueles que ainda não tinham voltado às aulas presenciais, agora voltaram. Qual é o seu sentimento quanto a isso? Sente que viramos o jogo?
Jogar, competir, brincar! No mês da criança, o verbo brincar sempre ganha outra cor: é mais vívido, mais presente. Como se as crianças se resumissem às brincadeiras. Como se as brincadeiras se resumissem às crianças. Falamos com dois especialistas no assunto e provamos, na edição deste mês, que brincadeira é coisa tão importante quanto outras necessidades humanas, que não existe idade para sermos brincantes e que brincar rima com aprender. Quer apostar?
Além disso, falando em aprender, trouxemos detalhes de um papo com um dos melhores neurologistas do Brasil, que nos deu uma verdadeira aula a respeito do funcionamento do cérebro humano durante o processo de aprendizagem. Um presente de outubro para os professores da nossa rede.
Por fim, você também verá nesta edição uma animação forte e potente sobre a visão que o mundo tem sobre as mulheres em pleno ano de 2021 — perfeita para aquela aula lúdica que você estava planejando — , e os textos inéditos e cirúrgicos dos nossos colunistas fixos. Está preparado para dar o play?
Professor, estamos a caminho do fim do ano e, ao que tudo indica, ficamos bem e passamos juntos pelas missões mais difíceis desta rodada. Vamos firmes que ainda tem muito jogo pela frente. Aproveite a leitura, desfrute das brincadeiras e continue bem!
Um beijo
Professora Fique Bem
Conjugando o verbo brincar em todas as pessoas, modos e tempos
No mês das crianças, não faltam exemplos de como brincar é divertido. Os conteúdos voltados aos professores falam da importância de uma educação lúdica e os pais de crianças pequenas começam a fazer planos para um dia 12 de outubro repleto de risadas. Mas será que a brincadeira é algo exclusivo das crianças? Podemos pensar no baralho, no dominó, nos jogos de tabuleiro, nos jogos do celular, nas dancinhas das redes sociais e até naquela série ou novela que você adora assistir, só para se divertir, como exemplos de brincadeiras? Será que buscar formas de entretenimento não faz parte da natureza humana e nos garante, inclusive, uma boa saúde emocional? Afinal, será que brincar é coisa séria?
LIVE: VAMOS BRINCAR?
Na primeira Live Fique Bem de outubro, levantamos essas questões para experts no assunto. Volney Paulo Guaranha é especialista em lazer e animação sociocultural, profissional de educação física e do turismo, é também escritor, educador e proprietário da empresa Recriação — Lazer e Educação. Junto a ele, chamamos também Cristiano dos Santos, que é escritor, palestrante, educador, compositor, pesquisador, contador de história, locutor, manipulador de fantoches, colaborador da Aliança pela Infância e diretor do grupo Brincadeiras e Jogos. Pois é: dois especialistas em diversão!
Segundo eles, embora exista uma certa resistência quanto ao verbo, todo o ser humano é um ser brincante. “O brincar é um direito universal. Um direito do cidadão. Hoje, eu me intitulo um brincante 25 horas por dia”, disse Volney.
“Brincar é uma necessidade humana. Só que a gente vai sendo convencido que não, que brincar é coisa de criança. Então, brincar é colocado dentro de um período específico da vida. Contudo, a infância não é um tempo histórico, é um período que a gente pode e deve revisitar”, afirmou Cristiano. “Veja, o brincar está ligado ao lúdico e o lúdico está ligado ao prazer. Assistir uma série, é uma maneira de brincar. A nossa cabeça se movimenta, a gente faz conexões, a gente cria... Brincar é uma necessidade. Por isso que a gente brinca tanto”, conclui.
Ou seja, em um mundo gameficado como o que a gente vive, no qual existe uma busca tão urgente por momentos de lazer em meio à correria da vida adulta, brincar é, sim, um dos nossos planos de fuga. E quem disse que a vida precisa ser divertida apenas na hora do descanso? Encarar os desafios do dia a dia com a mente de quem brinca pode nos fazer levar uma vida mais leve e feliz.
“O adulto brinca. Mas é muito difícil ele intitular que é uma brincadeira”, comentou Volney. “Brincar rima com aprender. Hoje, as escolas estão intensificando a gameficação, trazendo jogos virtuais para a sala de aula. O professor esperto e estrategista usa o conceito do brincar, associado ao aprender, pois a brincadeira tem função criativa e pedagógica. Brincar é sinônimo de aprender”, continua.
Além dos seus estudos na área, suas experiências práticas e algumas músicas divertidas, os dois convidados compartilharam com a nossa rede, durante a conversa, uma série de brincadeiras super criativas! Algumas delas, inclusive, podem ser feitas no contexto das aulas à distância. Você vai amar!
Assista à live e descubra, entre outros aprendizados, como conquistar dos seus alunos aquele famoso “poxa, mas a aula já acabou?”, típico dos encontros que divertem e que dão resultado. Provavelmente, você também vai sentir essa sensação gostosa de que o tempo voou, professor. Afinal, brincar é uma necessidade universal e a gente é muito mais feliz quando respeita e escuta as nossas necessidades. Se faz sentir, faz sentido. Bora brincar?
Como o nosso cérebro aprende?
Todos nós já passamos por uma série de processos de aprendizado. Muitos deles se deram na infância e pouco lembramos de como aconteceram. Se você está lendo este texto, por exemplo, certamente você é uma pessoa que foi alfabetizada na língua portuguesa. Contudo, provavelmente você já se deparou com o desafio de aprender uma nova língua, ou qualquer outro novo conteúdo e se questionou: afinal, como o nosso cérebro aprende?
LIVE: O CÉREBRO E A PANDEMIA
Para responder à essa pergunta de um milhão de dólares, chamamos à Live Fique Bem um especialista de um milhão de títulos. Um dos maiores conhecedores brasileiros a respeito do funcionamento do cérebro, Fabiano Moulin é médico neurologista, coordenador da Unifesp, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, professor da Casa do Saber, pai da Cecília e humano do Hermes, um gatinho sonolento que também garantiu a sua participação no nosso encontro.
E que encontro! Nosso especialista trouxe dados, evidências e muito conhecimento para a conversa. Apesar da linguagem simples usada por Fabiano e do pensamento construtivo orientado pelo nosso querido Dudu, vários professores que assistiram a essa live ao vivo comentaram no chat que precisariam assistir novamente o encontro para pausar, refletir e fazer anotações. Afinal, esse vídeo é uma verdadeira aula de como ensinar! (E, consequentemente, de como aprender).
Segundo a neurologia, apesar de sermos seres únicos, a ciência aponta para uma certa “receita do aprendizado”. Os ingredientes necessários são a atenção, o engajamento, o feedback e o sono. Mas é claro que é necessário muito estudo, autoconhecimento, experiência e exemplos para entender o que prende a nossa atenção e garante o nosso engajamento individual. Por exemplo, um ambiente com muita informação pode causar desatenção e desconforto, assim como um ambiente com pouquíssima informação. Você já pensou nisso? Já, sobre o engajamento, existe uma fórmula do sucesso:
“O ápice do engajamento são os 15% de novidade. Não existe nenhum aprendizado que vem do nada. A cada nova informação assimilada, eu crio ou desfaço conexões no meu cérebro e já foi comprovado cientificamente que a porcentagem ideal para garantir um bom aprendizado é submeter as pessoas a 85% de algo já conhecido e 15% de novidade bem distribuída”, afirma o neurologista. Anote aí!
Além disso, o Dr. Fabiano aproveitou alguns momentos da live para reforçar que a memória não é uma ferramenta feita apenas para decorar, mas que existe para que possamos aprimorar o nosso próprio modelo de mundo. Nessa mesma linha de raciocínio, vale lembrar que contextualizar o assunto de uma aula, trazendo o tema para a realidade do aluno — com 85% de algo já conhecido, tratado em aulas passadas ou relacionado a ideias comuns, e 15% de algo novo, inédito — , pode fazer toda a diferença na nossa sala de aula.
Dudu e Fabiano trataram ainda do valor da ignorância, do perigo da polarização, da importância da avaliação e dos erros que a educação formal comete após a aplicação de provas, de como fatores culturais e sociais podem modificar o cérebro das pessoas e afetar a capacidade de aprendizado pleno, explicaram a necessidade do mindfulness e, ainda, o perigo das mídias sociais. Ufa! Pronto para assimilar tudo isso? Pegue um papel, uma caneta e dê o play. Seu cérebro vai se deliciar com tanto conteúdo.
Os desafios de ser mulher em uma sociedade patriarcal
Dados do Censo Escolar de 2020 revelam que 96% dos professores da educação infantil são mulheres. No ensino fundamental I e II, representamos, respectivamente, 88% e 67% dos docentes. E, no ensino médio, o percentual de mulheres entre os professores é de 58%. Diante dos dados e do tanto que conhecemos a nossa rede Fique Bem, é muito provável que você que nos lê agora seja uma mulher. Aqui desse lado, eu também sou uma.
Contudo, apesar de sermos mulheres, muitas de nós não têm consciência de como somos vistas pelo mundo. E você, colega professor, seja qual for seu gênero, precisa ter essa consciência quando trata diretamente da educação de alunas. Ou melhor, faz parte do nosso trabalho como educadores discutir sobre esse assunto com todos os nossos alunos.
VÍDEO: COMO O MUNDO VÊ AS MENINAS?
Hoje, apesar de já estarmos em 2021, ainda podemos afirmar que, na maior parte dos lugares do mundo, meninas não são vistas como pessoas, mas como objetos passíveis de serem explorados. Além disso, a educação que hoje educa as meninas estritamente para o casamento e para a maternidade, faz com que, aos 7 anos, meninas já alimentem o sentimento de que são inferiores aos meninos.
Na terceira semana do mês de setembro, o Fique Bem elaborou e publicou um vídeo voltado a esse assunto, com um forte texto da nossa colunista sobre feminismo, a professora Gina Vieira Albuquerque. O vídeo abaixo foi publicado em formato de animação tanto no nosso Youtube quanto no nosso Instagram e está disponível para ser usado em sala de aula.
O Fique Bem espera que vídeos como esse ajudem os professores a tratarem do assunto com seus alunos, mesmo com os mais novinhos. Afinal, a escola precisa promover uma educação que possibilite às meninas terem sonhos maiores que aqueles impostos pela cultura patriarcal. No próximo vídeo, falaremos sobre o nosso papel e como podemos atuar nesse sentido.
Colunas
FEMINISMO
Dia do Professor ou da Professora? As desigualdades entre homens e mulheres e a Economia do Cuidado
Gina Vieira Pontes
Ceilandense, professora da educação básica no DF há 29 anos. Mestra em Linguística, especialista em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar e em EAD. Autora do Projeto Mulheres Inspiradoras.
No mês em que celebramos a profissão do magistério, em especial nos dias 05 e 15 de outubro, que são, respectivamente o Dia Internacional e Nacional do Professor, convido a vocês, leitoras e leitores da Revista Fique Bem, a pensarem na relação entre o magistério e a questão de gênero, focalizando as assimetrias culturais entre homens e mulheres.
É ponto pacífico que o Brasil é um dos países que menos valoriza a carreira docente. É muito raro que se ouça um jovem declarar que deseja abraçar o magistério como projeto de vida. Salários baixos, péssimas condições de trabalho, turmas superlotadas, crianças e adolescentes cada vez mais resistentes ao modelo educacional hegemônico e uma formação que nem sempre prepara os docentes para lidar com esta resistência são alguns dos fatores que explicam a pouca atração que a carreira exerce nas novas gerações.
E, para falar da desvalorização e da precarização do magistério, é imprescindível trazer para o debate também a questão da desigualdade entre homens e mulheres. A história mostra que, até meados do século XIX, o magistério era uma profissão para os homens. Depois deste período, em função de uma demanda cada vez mais crescente de professores, houve a chegada de muito mais mulheres à profissão e, somado a isso, a adoção do discurso de que as mulheres são naturalmente mais vocacionadas ao magistério, sobretudo, na Educação Infantil e nos Anos Iniciais, porque teriam, por sua natureza feminina, mais habilidades para o cuidado e para a proteção do que os homens. Esta perspectiva está muito ligada a uma lógica sexista que faz com que, na nossa cultura, todo o trabalho do cuidado seja delegado às mulheres. Este trabalho, por sua vez, não é valorizado, porque sequer é considerado trabalho.
Um estudo da Ofxam Brasil mostra que 85% do trabalho de cuidado não formal no Brasil é feminino. Pesquisas do IPEA apontam que, se este trabalho do cuidado fosse contabilizado, ele corresponderia a 11% do PIB, ou seja, seria mais que o total produzido pelos setores Agropecuário e Industrial. Muito da desvalorização do magistério na educação básica, na fase que vai da Educação Infantil aos Anos Finais, se explica pelo fato de que esta é uma etapa onde a presença feminina é de mais de 80%.
É preciso que haja a compreensão de que educar envolve exercer cuidado e proteção, mas vai muito além disso: exige permanente qualificação técnico- profissional. O debate precisa ser em torno do fato de que, toda profissão que envolve cuidado precisa ser valorizada e bem remunerada. Além disso, deve considerar que a capacidade de exercer cuidado não é uma qualidade intrínseca às mulheres, é uma capacidade a ser aprendida e desenvolvida por todos. Profissões e postos de trabalho considerados “naturalmente masculinos” ou seja, aqueles ligados a chefiar, comandar, ligados à tecnologia, às áreas de exatas, são sempre mais valorizados que profissões e postos de trabalho que, se imagina pela cultura sexista, deveriam ser exercidos por mulheres.
Falar em promoção de igualdade de gênero, significa pensar políticas que ressignifiquem a maneira como são percebidas, remuneradas e representadas culturalmente as profissões delegadas às mulheres. É indispensável incluir no debate sobre valorização da carreira docente, a reflexão sobre a urgência de valorizar as profissões que, por fatores históricos, sociais e culturais, se tornaram predominantemente femininas.
Neste sentido, é importante que se diga que desigualdades de gênero impostas às mulheres, e em especial, às profissionais da educação estão tão naturalizadas na nossa cultura, que mesmo com a carreira tendo presença feminina de mais de 80%, nós ainda falamos de “Dia do Professor” e não “Dia da Professora”. A utilização do masculino universal na língua é resultado deste processo histórico que definiu o homem como o parâmetro, como o sujeito universal e a mulher como “o outro”. Não marcar o feminino na língua é uma forma de apagar e invisibilizar as mulheres.
Por isso, neste mês do professor, eu quero agradecer a todas, todos e todes os profissionais da educação que têm se dedicado com compromisso e seriedade ao magistério, e parabenizá-las pelo extraordinário trabalho que realizaram no contexto da pandemia, diante da imposição do modelo de ensino remoto. Eu conversei com docentes do Brasil inteiro e o que vi de dedicação destas profissionais é comovente. O meu orgulho por ser professora se renovou e se fortaleceu muito vendo o que minhas colegas de profissão fizeram.
Por isso, hoje, eu escolho dizer: Feliz Dia da Professora! Eu tenho certeza de que os educadores, os homens, que são aliados das mulheres na luta por igualdade, vão sentir-se honrados e incluídos pela utilização do feminino nestas felicitações, como nós, mulheres, tivemos que nos sentir incluídas nas felicitações pelo “Dia do Professor”, desde sempre.
RACISMO
Brinquedos afirmativos e a importância da representatividade
Lorena Bárbara Santos Costa
Professora da rede pública municipal dos municípios de Salvador e Lauro de Freitas (BA). Pedagoga pela UFOP e Pós-graduada em Psicopedagogia e em Pobreza e Desigualdade Social. Mestranda em Educação de Jovens e Adultos- UNEB.
Toda criança gosta de brincar e o brincar é um momento que além de lúdico é também pedagógico. Através do ato de brincar, a criança se expressa, reelabora conceitos, compreende o mundo ao seu redor e constrói a sua
identidade a partir da interação com o outro.
Atualmente, o debate acerca da representatividade tem feito parte da indústria de brinquedos no país. A intenção é repensar a sua produção para atingir cada vez mais um público exigente e empoderado acerca da sua identidade e cultura.
Muitas famílias têm buscado os empreendedores que fabricam jogos e brinquedos afirmativos, como alternativa para atender as suas necessidades e para contribuir na educação de seus filhos, tendo em vista que ainda é muito
escasso o acesso aos brinquedos afirmativos nas grandes lojas e, quando são encontrados, são completamente inacessíveis e com preços exorbitantes.
Hoje em dia, as meninas negras já não querem ter bonecas apenas brancas, mas também as que se pareçam com elas, com os cabelos crespos, com tranças, com a cor de suas peles. E se o príncipe for negro então?
Olhando de um ponto de vista superficial, parece que não faz muita diferença, só que faz. Para as crianças negras, ter brinquedos que dialoguem com a sua identidade faz toda a diferença na autoestima, ajuda a criança a compreender as diferenças dos grupos étnicos que compõe a nossa sociedade, e possibilita, desde cedo, o debate acerca do racismo estrutural. Crianças não negras podem e devem ter brinquedos afirmativos para que compreendam a diversidade de povos que formaram a nossa cultura e o legado que nos deixaram.
Segundo a organização social Avante, em junho de 2021, apenas 6% das bonecas fabricadas no Brasil eram negras. Esse dado reflete a sociedade em que estamos inseridos, uma sociedade que não reconhece o povo negro, a sua identidade, a sua história, e o seu papel na construção do nosso país.
A negação da representatividade nos brinquedos durante a infância, contribui para o fortalecimento do processo histórico eurocêntrico, enraizado através do processo colonizador escravocrata, que retirou do continente africano milhares de pessoas negras. Por isso, possibilitar que as crianças negras e não negras tenham acesso aos brinquedos afirmativos é romper com as marcas de poder existentes e naturalizadas na nossa sociedade racializada, e contribuir para um mundo cada vez mais sem racismo e para que as pessoas não sejam julgadas pela cor de sua pele.
Sites:
https://www.hypeness.com.br/2020/05/professora-cria-super-trunfo-com-herois-e-heroinas-negras/
https://www.facebook.com/socorrolia.papaxibe.5?comment_id=Y29tbWVudDoxODc5NDg5MDI1NTIzODM3XzE4Nzk4OTk1NTg4MTYxMTc%3D
https://d24am.com/plus/identidade-tikuna-em-bonecas-e-nas-passarelas/
https://www.hypeness.com.br/2020/05/professora-cria-super-trunfo-com-herois-e-heroinas-negras/
https://www.amorabonecas.com.br/?fbclid=IwAR3UB5cKyADS1tcQ_nNvhVZZ5C14VqWztj1Dv_mf7o3eXP6ez5ivD4uoyps
https://www.educlub.com.br/brinquedos-africanos-jogos-e-bonecas/?fbclid=IwAR11diq-cJKkCHP8UTFQV_BaO-uFg_e-ewTiqwFxkjHMsx7wK68u4mw--d4
Referências:
Brougère, G. (2010). Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez.
Dornelles, L. V. (2003). O brinquedo e a produção do sujeito infantil. Centro de Documentação e Informação sobre a Criança. Universidade do Minho. Instituto de Estudos da Criança. 2003. Recuperado: 26 out 2021. Disponível: http://cedic.iec.uminho.pt/Textos_de_Trabalho/textos/obrinquedo.pdf >
PEDAGOGIA DO ENCANTO
"Faz de conta que...": O papel da imaginação no aprender
Flávia Pereira Lima
Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Viçosa e doutora em Recursos Naturais do Cerrado pela Universidade Estadual de Goiás. É professora no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás. Seu maior desejo: que suas alunas e seus alunos compreendam a beleza de ler e explicar o mundo por meio do conhecimento científico.
Imagine um tatu com garras superpoderosas. Ele é capaz de cavar um buraco na superfície da Terra e chegar até o centro do planeta. Não é à toa que ele se chama Tatu Power, o maior escavador da galáxia! O que será que ele encontrará pelo caminho? A temperatura no interior da Terra será a mesma da superfície? Tenho certeza de que bateu aquela vontade de pegar uma carona com o Tatu Power nessa viagem!
Famosos personagens, vez e outra, aparecem nas minhas aulas de Ciências: a Eteolinda, uma ET que quer saber tudo sobre o nosso planeta; a Dona Geninha, uma senhora com várias perguntas sobre a natureza; o Sebastião, um esqueleto esquecido que vive perdendo seus ossos; e o Tatu Power. Posso dizer que todos são sucesso e incentivam meus alunos e alunas a se envolverem nas aulas e a se dedicarem na realização das atividades. Muito melhor explicar para a Eteolinda o que é uma orelha-de-pau do que simplesmente elaborar uma resposta sobre os fungos. Os personagens dão cor e sabor às aulas, geram engajamento e vontade de aprender. A imaginação permite experimentar novas ideias e diferentes possibilidades, sem as restrições da vida real.
À primeira vista, a imaginação parece incompatível com o ensino de Ciências, no qual buscamos entender e explicar a natureza por meio das evidências científicas, construídas historicamente pela aplicação do método científico. Mas, na sala de aula, podemos sim juntar imaginação às evidências, cada uma tendo um papel relevante na construção do conhecimento. Isso também é o que defende a Yannis Hadzigeorgiou em seu livro Educação Científica Imaginativa (tradução livre). Para ela, a imaginação faz parte da própria Ciência, visto que muitos objetos de estudo são não observáveis e cientistas estão o tempo todo envolvidos em modelos, elaborando experimentos, buscando soluções criativas para os problemas, pensando fora da caixinha. A própria hipótese nasce de uma construção imaginária e tudo isso envolve o desenvolvimento de imagens mentais.
Na sala de aula, a imaginação também se faz presente quando alunas e alunos são desafiados a aprenderem sobre fenômenos não diretamente observáveis, como a fotossíntese, quando damos pitadas de fantasia com os personagens ou propondo, por exemplo, que cada um se transforme em um átomo de carbono para compreender o ciclo biogeoquímico desse elemento. A história da Ciência também tem um papel relevante em despertar a imaginação e engajar as alunas e os alunos em investigações envolventes. O que pode ter pensado Carlos Chagas diante as evidências de uma nova doença no interior de Minas Gerais? Quais evidências Marie Curie encontrou para a construção da ideia de radioatividade? Os estudantes podem percorrer a história de diversos cientistas e tentar entender os desafios teóricos e sociais de cada época. E claro, a imaginação preenche as lacunas, construindo cenários e ajudando cada um a se situar em outros tempos.
A imaginação tem tudo a ver com o ensino investigativo. Aliás, a investigação em sala de aula fica muito mais rica e envolvente quando aliada a ela. O novo, o misterioso, a descoberta e as emoções geram o tão desejado encantamento por aprender. Por isso, desejo que, em toda a sala de aula, de qualquer disciplina, em todo o canto do Brasil, a imaginação esteja presente tanto nas cabeças dos alunos quanto nas de seus professores!
Referência:
Hadzigeorgiou, Yannis. Imaginative Science Education: The Central Role of Imagination in Science Education. Springer, 2016.
COMPAIXÃO NA ESCOLA
Relacionamentos e Conflitos
Eduardo Pacifico
Fundador e Diretor da ONG Gaia+. Ecólogo, mestre e doutor em Ciências Ambientais, criou e realizou projetos de habilidades socioemocionais com milhares de crianças e professores em todo o Brasil.
Valentin Conde
Coordenador de projetos no Instituto Sidarta, professor de práticas contemplativas para a infância, Pedagogo formado pela PUC-SP e mestre em ciências da religião com ênfase em estudos budistas pela Fo Guang University de Taiwan. Pós-graduado em Gestão Emocional nas Organizações pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
Você já cuidou de uma planta, mesmo que seja de um feijãozinho no algodão? Se quiser que ela cresça e floresça, você tem que regar, colocar no sol, trocar de vaso quando não cabe mais. Tem que aprender quanta água, quanto sol e quais nutrientes ela precisa. As relações sociais são muito parecidas com o cuidado com as plantas. As habilidades necessárias para nutrirmos relações saudáveis podem ser aprendidas e desenvolvidas.
O ambiente escolar não é uma exceção; o processo de aprendizagem é de cunho social, e o aprendizado é facilitado ou dificultado pela forma como os membros da comunidade conseguem se relacionar e se comunicar uns com os outros.
Esse tema é fundamental para todos os seres humanos: pesquisas têm sugerido que o principal fator determinante de bem-estar e felicidade são relacionamentos saudáveis e significativos.
Mas afinal, como podemos ter bons relacionamentos? No mês passado, falamos sobre a importância da compaixão como ingrediente essencial para o convívio ético. Relacionar-se de forma gentil não significa a ausência de conflitos. Muito pelo contrário, sugerimos que os conflitos sejam valorizados. Pode parecer contraditório mas, como nos ensina Mario Sérgio Cortella, relacionamentos incluem necessariamente discordâncias e conflitos, e isso é ótimo! Em seu livro “Viver em Paz para Morrer em Paz: se você não existisse, que falta faria?”, Cortella explica:
“A concordância faz com que permaneçamos estacionados. A discordância faz com que cresçamos. A palavra 'concordância' vem de cor, 'coração', e significa unir os corações. Discordar, por sua vez, é promover a separação dos corações, algo que possibilita o desenvolvimento pessoal. Assim, para estimular o crescimento do outro e de si mesmo, Paulo Freire primeiro acolhia seu interlocutor, colocava a mão em seu ombro, estabelecia uma ligação. Depois, quando era o caso, discordava, sempre aberto a acolher em si a discordância do outro e, portanto, a aprender.” Para concordar ou discordar, é preciso desenvolver interesse genuíno no outro, em sua história e nas suas necessidades também. Como disse Rubem Alves, “É na escuta que o amor começa. E é na não escuta que ele termina”.
Para nutrir esse interesse podemos utilizar a escuta empática. Ela envolve a capacidade de escutar os outros de forma aberta e atenta, evitando julgamentos e interrupções. Essa qualidade pode ser exercitada por meio dos “diálogos conscientes”, conversas nas quais os participantes se revezam respondendo perguntas sem interrupções ou comentários, conselhos ou dicas. Você já esteve nesse lugar, o de ser ouvido com atenção e abertura? Ser ouvido com atenção e entrega pode ser uma experiência realmente importante para ressignificar nossos problemas e olhar para nossas histórias sob novas perspectivas. É como se tivéssemos um novelo e fossemos transformando-o em uma bela peça de crochê, reorganizando aquilo que estava misturado e desorganizado.
Você já ouviu com atenção, sem julgamentos, comentários, questionamentos ou interrupções, você já tentou? O papel da docência, às vezes, pode ser um obstáculo nesse sentido. Como professores e professoras, nos sentimos na obrigação de ter respostas para problemas e soluções para conflitos. Porém, repousar no simples ato de ouvir, sem a ansiedade por respostas e soluções, pode ser muito prazeroso para você e muito saudável para seus estudantes. Que tal experimentar?
Nesse sentido, é importante lembrar que a escuta empática não significa necessariamente concordância. É possível ouvir sem concordar, e tudo bem! A empatia é uma escolha consciente, e podemos entender os motivos de determinados comportamentos, mas permanecer discordando.
Marshall Rosenberg, psicólogo americano que desenvolveu a comunicação não-violenta (CNV), enfatiza a importância de nos expressarmos de maneira genuína, mas cuidadosa, evitando julgamentos. Essa forma de comunicação está focada nas necessidades, com abertura para divergências. O resultado desse processo é a comunicação hábil, que é a capacidade de comunicar necessidades e opiniões de forma respeitosa e articulada, preparados para conflitos que nos façam crescer. Afinal, quem fica parado é poste! Nós precisamos de conflitos para aprender hoje e sempre.
Sugestões para aprofundar:
Livro “Viver em Paz para Morrer em Paz: se você não existisse, que falta faria?” de Mario Sérgio Cortella, Editora Planeta.
Livro “Vivendo a Comunicação Não Violenta”, de Marshall Rosenberg, Editora Sextante.